eurotrip

Mountain Lovers: Neuschwanstein Castle

     Dessa vez resolvi falar mais do que o normal. Então, se você está aqui somente pelas fotos, dá uma rolada na página que elas estão depois desse texto, beleza? Mas garanto que elas farão muito mais sentido se você ler tudo isso aqui.

     Mais de um ano atrás fiquei sabendo que uma carioca que morava na Alemanha, gostava muito do meu trabalho e que teria interesse em me levar pra lá. Fiquei curioso em saber quem era ela, quais eram as idéias e começamos a trocar alguns emails e algumas mensagens no whats. Nome dela era Raquel, advogada e estava noiva de um alemão chamado Michael. Até então não nos aprofundamos muito em nossos planos e nossas mensagens começaram a se tornar cada vez mais raras. No início tivemos idéia de fazer uma sessão de noivado no verão europeu, que iniciaria em meados de maio e iria até final de julho. Busquei algumas passagens mas tudo estava caro demais pela época, então a coisa começou a minguar. Tivemos então a idéia de marcar nossa sessão pra agosto, ainda quente para os padrões europeus e ainda com algumas passagens boas rolando. Nosso otimismo nos dizia que elas poderiam baixar mais ainda, então esperamos. Os meses foram passando e desesperadamente os custos aumentavam junto. Para piorar, a Raquel sofreu uma reviravolta em seu trabalho e o Michael assumiu projetos em sequência, o que dificultava cada vez mais nossos planos. Foi quando no final de julho vi o valor das passagens irem para as alturas e novamente cancelamos a viagem.

     Até então meus trabalhos contando histórias de casais se resumiam a região sul da América e Europa seria uma novidade e tanto pra mim. Confesso que fiquei frustrado com essa decisão de cancelar a viagem e um tanto inquieto também. Eu queria mesmo fazer isso. Na tarde do dia trinta de julho, fiz uma pesquisa detalhada e montei um plano de um "on the road" pela Alemanha, com custos, locais e datas para novembro desse ano. Apresentei no primeiro dia de agosto em um breve email para Raquel e recebi um OK imediato. Comprei as passagens e fiquei ansiosamente aguardando o dia nove de novembro.

     Era manhã do dia onze de novembro quando desci as escadas do Airbus da Turkish Airlines e pisei em solo alemão. Um transfer me esperava logo no final da escada, em uma das pistas centrais do enorme aeroporto de Frankfurt. A malha preta que vestia não era suficiente para o frio que fazia. Então abri minha mochila, saquei da minha jaqueta azul, fechei o zíper até a altura do queixo, acomodei novamente minha mochila nas costas, olhei para frente, apertei os olhos contra o vento frio e respirei fundo, enchendo meu pulmão de um ar puro e gélido. Depois de ser levado pelo transfer até o terminal, segui pelos corredores até a área de desembarque. Com minhas duas mãos no bolso da calça jeans, cruzei a porta e vi um cara sorridente, cabelo castanho claro e curto, barba por fazer, vestindo um casaco bege até a altura do joelho ou próximo. Nos abraçamos e ele me deu as boas vindas. Michael, ou Michi para os chegados, é um alemão bavariano que trabalha e faz faculdade em Mannheim, cerca de uma hora de Frankfurt e mora em um povoado chamado Viernheim, com a Raquel, a dez minutos de Mannheim. Conversamos muito no caminho até lá onde encontraríamos com ela que ainda estava em um curso.

     A idéia inicial era saírmos de Viernheim no final de semana seguinte e irmos até a Baviera, onde o Michi nasceu e que os dois se casaram no civil meses antes. Durante uma semana eu passaria então na região de Mannheim e conto brevemente uma história que rolou nesses dias em um post AQUI. No dia dezoito de novembro, fazia uma manhã fria em Viernheim, abastecemos o carro e pegamos a Autobahn em direção a fronteira com a Austria, Baviera ou Bavaria, mais precisamente para a cidade de Schwangau. Depois de rir por horas até a mandíbula doer, tomarmos algumas cervejas em conveniências pela estrada, chegamos aos pés dos Alpes Bávaros no inicio da noite de sexta. Nos programamos então para fazer uma sessão bridal no domingo, inicio da manhã, e tiramos o sábado para conhecer alguns lugares da região e conto esse dia nesse post AQUI. Nesse mesmo sábado, final da manhã, conheci Giselle Thurm e Er Hardt. Como ótimos anfitriões, me receberam em sua casa para conversarmos, bebermos um café e batermos um papo. Giselle e Er, tem muito em comum com a Raquel e o Michi. Giselle também veio do Rio e Er é bavariano nato. Os dois construíram um romântico spa hotel em Schwangau chamado Das Rübezahl, que é digno de um conto de fadas, com vista para as montanhas nevadas, campos bavarianos e o excêntrico Neuschwanstein Castle, que inspirou até Walt Disney para fazer o Castelo da Cinderela. Desconhecendo o costume de deixar os calçados fora da casa, entrei com as botas sujas e empolgado com a conversa só reparei quase trinta minutos mais tarde que todos estavam descalços, menos eu. Er e Giselle possuem um filho, Alexander, que mora e estuda na Suíça, mas que nessa ocasião estava com eles. Durante nossa conversa, comentei que ia fotografar a Raquel e o Michi no topo das montanhas logo a frente, acima do castelo. Eles tem uma cabana de montanha próximo ao topo e prontamente o Alex se ofereceu para nos levar até lá no outro dia pela manhã.

     Ainda era noite quando Alex estacionou seu Audi prata enfrente a casa. A manhã do domingo era fria, mas o céu claro deu uma injeção de ânimo em todos. Havia nevado a noite nas montanhas, então os picos estavam completamente brancos. Era lá que eu queria estar dali a alguns minutos. Paramos em um posto de gasolina próximo para comprar um café quente e alguma coisa para comer. Alex me falou que o carro subiria até certa parte do trajeto e depois teríamos que subir a pé o restante, porque o gelo impossibilitaria de subir até a cabana. Mochila nas costas, botas nos pés, deixamos o carro em um clube de montanha e começamos a caminhar. Logo acima, a 1320m de altitude, uma cabana surgiu a minha frente. Rohrkopfhütte é um clube de montanha, com uma bela casa de dois pisos, uma ampla escada externa que leva ao andar de cima e para um grande deck de madeira onde se avista o vale e o castelo. Pilhas de lenha prontas para queimar e mesas de acampamento. Lá rolam também aqueles casamentos de montanha bacanas que vemos no Pinterest, já viu?

     O sol ainda não havia aparecido por trás dos montes, então pedi para a Raquel e o Michi se trocarem dentro da cabana e eu esperaria fora. Eu e Alex ficamos conversando fora da casa e então comecei a analisar o terreno e sentir os potenciais lugares para fotografar. Atrás da cabana, o pico seguia poucos metros acima em meio a uma floresta de pinheiros. Perguntei se tinha como chegar bem lá encima e ele me falou que sim. Então subimos em meio as árvores e chegamos a uma cerca de proteção, pulamos ela e havia um banco de madeira e uma vista incrível pra todo o vale, as montanhas e castelos da região. Segundo ele, é nesse lugar que muitos vêm pedir suas respectivas namoradas em casamento, naquele banco. Então rapaziada, fica a dica. Mas não era o lugar que eu imaginava fotografar a Raquel e o Michi. Ao descermos de volta, perguntei ao Alex se conhecia algum lugar nevado o bastante para caminharmos sobre a neve, talvez uma encosta rochosa e que eu conseguisse avistar toda a cadeia de montanhas que fazia a fronteira com a Austria. Ele comentou de um lugar montanha acima, mas que precisaríamos caminhar por uns 15 ou 20 minutos na neve. Esperei então os dois que se trocavam na cabana para tomar qualquer decisão.

     Olho por cima do meu ombro esquerdo, depois de ouvir o barulho da porta se abrindo. Ela estava linda, vestia um modelo do atelier 3Gurias que fazia um belo movimento com uma mínima brisa. Cabelo solto e ondulado caindo por cima de seus ombros, batom vermelho e forte. Michi vestia um terno grafite que parecia ser feito especialmente para ele, cabelo arrumado, belos sapatos em um tom mais claro que o terno e gravata borboleta de poá. Felizes e com frio. Perguntei então para os dois o que achavam da idéia de subir mais 15 minutos montanha acima e toparam na mesma hora. Colocamos alguns casacos, trocamos os sapatos por botas de neve e começamos a subir. Logo acima a floresta dava lugar a um espaço aberto, forrado de uma branca e fofa neve. Avistei logo a direita, na encosta, um lugar sem árvores. Pedi para todos ficarem onde estavam e fui verificar a segurança do lugar. Caminhei até a encosta e percebi que oferecia total segurança, a neve estava fofa e diferente do que parecia ao longe, o lugar não era tão estreito. Michi pegou ela pela mão, caminharam até aquele espaço e a partir disso não parei mais de apertar o botão do obturador de minha câmera. Por hora ficamos ali, cruzávamos por pessoas preparadas, fazendo seu trekking em uma manhã ensolarada de domingo. Nos aquecíamos com os casacos as vezes, até voltar a cabana. Em certo momento resolvemos descer até o carro e ir para cidade.

     Depois de almoçarmos comida da região, feita pelas mãos bavarianas de Anita Stückl, mãe do Michi, e conversarmos um pouco na cozinha após o almoço, saímos para mesma igreja branca que fotografamos no dia anterior. Paramos o carro no acostamento, mas ventava tanto que mal conseguíamos abrir a porta para sair. Michi então levou o carro até a frente da igreja. Eu saí pela porta do carona e percebi que o vento era forte demais para fotografar no campo aberto. Sugeri que entrássemos na igreja para se refugiar um pouco e ver se o vento diminuía. Percebo então que a porta da igreja estava fechada, mas o arco atrás de mim criava nela um circulo de luz, bem contrastado com a sombra do lugar e em perfeita simetria com a largura da porta. Ótimo para quem tem TOC. Pedi para a Raquel ficar exatamente no meio da porta e vejo que a altura dela é a mesma da luz projetada. Um sopro de vento, dentro do espaço que estávamos, parecia maior que o vento de fora. Raquel de qualquer maneira foi até a porta e tentava segurar o vestido descontrolado. Fiz algumas fotos e sem perceber estávamos nós três gargalhando.

     Vento diminuiu e saímos para o campo ao lado, fiz mais algumas fotos por ali e então pegamos o carro para ir embora. Sol brilhava atrás das montanhas, os campos estavam verdes e brilhantes, aviões riscavam e desenhavam no céu. Falei pro Michi então me deixar em Füssen, na entrada do caminho que leva ao Castelo de Neuschwanstein. Literalmente eu subi correndo a trilha. Fiz para não perder a luz que imaginei, lá de baixo, que teria no castelo uma hora depois.

     A sensação que tive caminhando após fotografar o castelo de perto, se assemelha a caminhada de volta depois de fazer um pêndulo pendurado em uma ponte. Deu aquela sensação gostosa de realização e paz interior. Fotografei o famoso Castelo de Neuschwanstein na hora dourada, depois de um dia incrível em que fiz todas as fotos que por muito tempo pensava em fazer. Desci a trilha, comprei um imã de geladeira do castelo para minha mãe e embarquei no carro do Michi.

     Valorizar as boas memórias. Acho que eu fotografo por isso.

 

     Mas antes de ir para as fotos, dá um play aqui nesse som que faz toda a diferença. Percepção muda, sensação é outra. Vai!

     Ah, som é mesmo Summertime, só porque desconfio que eles vão ver esse post com a pele queimada do sol carioca.

     Michi e Raquel, isso aqui são memórias, pra vocês nunca se esquecerem do que ficou por lá.

     Queria agradecer a hospitalidade da Anita Stückl e do Mannix em sua casa; o incrível jantar que tive em companhia de Er e Giselle em seu hotel; a parceria e paciência do Alex naquela manhã de domingo e as meninas do atelier 3Gurias que fizeram os vestidos da Raquel para essa trip. E gratidão imensa pelo carinho e a confiança do Michi e da Raquel, foi foda!