WORK HARD AND BE NICE TO PEOPLE

     Não havia uma estrela no céu e uma densa camada de nuvens me separava do infinito acima. Era noite do dia vinte e seis de dezembro, segunda-feira e eu estava ainda agitado das turbulentas comemorações do feriado de Natal que acabara de passar. Foi meu aniversário também, o que sempre colabora para que a virada de ciclo no final de ano seja completa. Me preparava para dormir nessa noite quando fui a sacada do quarto de casa, respirar o ar fresco da floresta que ainda era impregnado de umidade da chuva de verão que havia caído minutos atrás. Me sentei com as pernas para fora, quase tocando meus dedos do pé nos galhos que pareciam se esticar para fazer o mesmo comigo. Pensei naquele instante, o quanto esse último ano foi importante para mim e o quanto tive dificuldade em perceber isso enquanto ele transcorria.

     Decidi então fazer uma retrospectiva do ano que passou e publicar aqui no blog. Voltei para dentro de casa, peguei meus HDs de 2016 e abri o catálogo de janeiro para ver tudo que havia acontecido. A intenção era selecionar as "melhores fotos" e postar aqui. Simples assim. Mas não foi bem o que aconteceu.

     Abri minha primeira sessão de 2016, dia da formatura do Renan e da Fernanda que havia começado em um final de tarde na segunda semana do ano. Lembrava de uma foto especifica que havia feito deles durante a festa e tentava encontrar ela. Então me vi revendo todo aquele dia e tendo lampejos de alegria ao reencontrar outras fotos, menos pensadas, mais expontâneas e que anteriormente eu sequer teria percebido ou lembrado de tal imagem como fotógrafo, porque talvez não tivesse aquela luz perfeita ou aquele enquadramento diferenciado. Decidi então abrir não só eventos, mas a minha vida nesse último ano. Comecei a olhar tudo com outros olhos e como uma coruja, fixei meu olhar arregalado à frente e vidrado passei a noite revendo meu ano.

     Fotografia é memória. Fotografia é conteúdo, não design. Eu procurava design quando pensei em fazer essa retrospectiva, mas ao fazer uma curadoria de bons momentos da vida, não encontrei só simetrias e cores. Percebi que o que me segurava por vários instantes em uma foto era um sorriso genuíno de alguém. Alguma demonstração expontânea de alegria. Era a lembrança de uma conversa que havia antecedido a imagem... fotografia é momento.

     A tela brilhava em minha frente quando acordei, um tanto perdido, na manhã seguinte. Nela eu via uma foto preta e branca da cadeia de montanhas que abraça o povoado de El Chaltén, na Patagonia. Havia pegado no sono noite passada, cansado e imerso em recordações. Desci até a cozinha, fiz um café e algo para comer e então percebi que a tarefa que eu havia me proposto fazer, levaria mais tempo que imaginava. Eu ainda revia o mês de fevereiro de 2016. Então decidi aceitar o processo de rever todo meu ano e levar talvez mais tempo que imaginava. Assim eu teria em mãos algo sincero, genuíno como os momentos que eu tinha presenciado e gravado em minha memória.

     Foi um trabalho e tanto, mas rever tanta coisa, um ano todo, foi uma das coisas mais gratificantes que fiz recentemente. Sabe aquele lance de se sentar para rever um álbum de família nas festas de final de ano? Foi tipo isso. Quando terminei já era 2017, já havia inclusive se passado uma semana. Mas o que importa de verdade? Mostrar meu trabalho? Sim, também é importante, mas acho que esse blog é um jornal da minha vida pessoal também. É aqui que de uma forma ou de outra, exponho o que sinto, o que vejo e que me toca. Seja escolhendo os melhores momentos de um casamento ou de uma sessão, tem muito de mim ali. É o que mexe comigo que vêm pra cá. Nesse caso, é o que mexeu comigo nos últimos 365 dias.

     Desejo alegria em abundância pra todos nós nesse 2017. Que possamos estar atentos aos gestos expontâneos de felicidade, gratidão, realização, superação pessoal, que nos rodeiam. Que nos deixamos contagiar por esses sentimentos e devolver ao mundo com euforia. Que estejamos presentes de verdade em cada conversa, com os ouvidos atentos e a mente aberta. Que sejamos afetuosos. Porque o que se leva dessa vida, senão boas memórias?

     Um PLAY aqui acima cairia muito bem. Vai por mim!