Pre-wedding on the road no Uruguay

001.jpg

     Por volta de um mês atrás dividi uma mesa do Orion Café, em Pelotas, com a Karina e com o Flavio, falávamos de nossas vidas e eu pescava informações sobre lugares que faziam sentido para os dois. Que tivesse um significado verdadeiro. Eles já haviam me dito que tinham interesse em fazer uma sessão pré-casamento na Fortaleza de Santa Teresa, no Uruguay, que foi o lugar onde eles ficaram pela primeira vez. Eu já sabia também que adoravam viajar, que vivem voando de um lado pra outro.

     Pensávamos em fazer uma fotos lá pelo final do ano, mas não decidimos data. Então a Karina me disse que haviam ganhado umas diárias na La Casa, em Punta Del Este, no primeiro final de semana de outubro. Era um final de semana que eu estava livre também, então decidimos adiantar nossos planos e fazer uma sessão on the road pelo litoral uruguaio, até Punta. Passaríamos pelo Forte, La Moza que foi onde rolou o primeiro beijo, o remoto vilarejo de Cabo Polonio, La Paloma e terminaríamos em Punta Del Este na noite de sexta onde eles ficariam na Casa e eu poderia fazer qualquer coisa que quisesse por lá. E assim, foi!

     Saindo do Parque Nacional de Santa Teresa já próximo do final de tarde, só nos restava o último transporte para Cabo Polonio que era as 20h. Todo trajeto da Ruta 10 até a ponta do cabo seria feito com um antigo caminhão semelhante aos de safari. Aceleramos um pouco e chegamos com folga no estacionamento onde os caminhões estavam. Ansiosos e sem saber direito o que fazer durante as 2h de espera, decidimos pegar estrada de novo e passear pela cidade anterior, Barra de Valizas. Havia chovido minutos antes. O céu a nossa frente era de um azul marinho como a muito tempo não via. No horizonte a nossa esquerda o sol se punha, laranja e brilhante. Junto com a gente no carro estava o Eduardo Souza, um dos meus melhores amigos e talentoso videomaker de casamentos. Foi ele que largou o palpite "vamos parar aqui na estrada". Saímos do carro, deslumbrados com todo aquele visual. Ninguém passava, tínhamos toda estrada só pra nós. Gotas esparsas caiam tranquilas do céu. Um arco-íris... foi incrível!

     As 20h entramos no "safari" e pela próxima meia hora andamos na escuridão, balançando de um lado para outro, sentados na traseira molhada do caminhão, iluminados apenas por uma extensão de luz suspensa na lateral que quebrou antes de chegarmos a Cabo Polonio.

     Algumas pequenas casas apareciam e logo sumiam na noite quando estávamos chegando no cabo. Pela fresta da lona do caminhão avistei o Farol de Cabo Polonio logo a frente. Fora aquela luz, algumas casas com geradores próprios, baterias ou velas. Tinha uma fogueira também, com algumas pessoas em volta. E uma lua... cheia... imensa. Caminhamos na praia, conversamos em volta da fogueira, fizemos novos amigos, contamos histórias, piadas e trocamos regalos até a madrugada.

     Como é bom se deixar levar!

     No outro dia pela manhã, acordamos cedo para ver o sol nascer da Loberia, onde lobos e leões marinhos se aglomeram nas pedras, logo abaixo do farol. A lua ainda estava lá, do lado oposto do horizonte, quase se despedindo. Circulamos pelas enlameadas ruas do vilarejo e brincamos com as formas que encontrávamos na arquitetura do lugar. Gastei o dedo fotografando!

     A Karina e o Flavio são incríveis. Moram e trabalham na turbulenta Porto Alegre e não perdem uma oportunidade de escapar para uma aventura ou uma boa relaxada em um lugar tranquilo. Estão sempre dispostos. Sempre parceiros pra qualquer coisa. Passam frio junto, se molham junto, sonolentos caminham juntos, dividem sacos e mais sacos de medialunas... sempre juntos.

     É um privilégio poder escrever de alguma forma mais uma parte dessa história rica que é a vida de vocês. Nunca vou esquecer esses dias. Ah, e nunca se esqueçam: nunca peçam pro motorista parar, peçam pra seguir. A trip nunca pode acabar. Amo vocês!

Laura & Otavio: Casamento na Vinícola

129.jpg

     Sempre procuro entender quem são os casais que entram em contato comigo, de onde são, o que fazem, como gostam de levar a vida... e ano passado quando a Laura e o Otavio entraram em contato comigo, logo me identifiquei com esses dois. E nós nem tínhamos fechado nada. Nem nos conhecíamos pessoalmente ainda. Outra coisa que estava pegando, era que eles não tinham lugar escolhido para o casamento, mas uma das alternativas era a Vinícola Laurentia, próxima a Porto Alegre e eu sempre quis fotografar um casamento lá. Certo dia recebi uma mensagem dela dizendo que sim, eles queriam que eu estivesse no casório e que seria na Laurentia. Check! Duas ótimas notícias em uma só mensagem e o dia ganho.

     De lá pra cá nos conhecemos e fizemos até umas fotos em um final de tarde que vocês podem ver nesse link AQUI.

     Já próximo ao dia do casamento, fiquei sabendo que eles estariam na Laurentia no dia anterior, hospedados com os pais e padrinhos e durante a noite fariam um jantar para que todos pudessem interagir, bater um papo, beber alguma coisa e se preparar para o dia seguinte. Achei isso uma ótima idéia e falei que queria estar lá para registrar essa parte também. Não vejo o casamento limitado a um protocolo de making, cerimônia e recepção. Casamento pra mim começa bem antes, já nos preparativos, na inquietude dos dias anteriores. Lá na frente, quando se lembrarem dessa data, quem esteve presente em toda fase do casamento não se lembrará apenas da Laura chegando pronta naquele gramado e daquele visual incrível que tinha na cerimônia. Pode ser que lembrem também da galera estendendo as conversas até altas horas e a Laura mandando todos dormir. Tudo faz parte e é lembrado com muito carinho depois.

     Já no sábado, acordamos cedo e um clima invernal tomava conta do lugar. As meninas já estavam se arrumando. Com tempo de sobra para todos, tudo foi mais tranquilo e aquela ansiedade típica do dia do casamento deu lugar a uma leveza que transparecia no rosto de cada pessoa que passou o dia lá. Entre as conversas, muitos falavam o mesmo: poderia aparecer um sol na hora da cerimônia né! Mas confesso que eu também pensava no rock da noite.

     Como foi? O que aconteceu? Um dos casamentos mais lindos e carregados de bons sentimentos que já tive a chance de fotografar. Rola aqui pra baixo que vou deixar as fotos falarem por si...

     Laura e Otavio, foi muito massa fazer parte disso e um prazer enorme conhecer vocês. Criei um carinho muito grande por vocês dois e vou levar, não só esse dia, mas cada conversa gostosa que tivemos comigo pra sempre. Foi demais!

 

     Local: Vinícola Laurentia

     Organização e cerimonial: Paula Constantino

     Decoração: Patricia Roos

     Vestido da Laura: Pronovias Barcelona

     Make e cabelo: Claudia Souza e Jhoritza Souza

     Som e Luz: Star Som

     DJ: Onério Franz

     Banda: James Joyce

     Móveis: Locare

     Video: Finger Video

     Fotografia: Jeff MünchowMatheus Costa

     

PATAGONIA SESSIONS - PART 3/3

     Sempre pro sul. Era tentadora a ideia de passar mais um tempo na região de Chaltén. Talvez semanas, mas sabia que se quisesse ir até o Ushuaya no tempo que tinha, não poderia me estender muito por ali. Ainda fiquei por alguns dias explorando os arredores e conhecendo a galera local, mas logo reparei que muitos me falavam a mesma coisa - você precisa ir a alguma geleira.

     O Glaciar Perito Moreno fica a 131 km de El Chaltén, seguindo em direção ao sul e essa geleira já foi considerada a oitava maravilha do mundo por seu porte e características peculiares. Mas chegando lá levantei uma questão: Havia trazido na mochila, roupa suficiente para um frio austral?

     Dois dias assistindo placas de gelo se desprendendo e formando pequenos icebergs, foram suficientes para me despertar a vontade de conhecer a Antártida e ver grandes blocos de gelo milenar flutuando em alto mar. Mas por enquanto era o bastante. Estava batendo queixo. Saí do parque e fui a uma pacata cidade chamada El Calafate. Pacata mas que possui um aeroporto que traz turistas internacionais para a região e dá todo o suporte que a cidade precisa. Logo após o sol se pôr, procurei algum lugar para comer, beber um vinho e passar um tempo escrevendo. Temperatura caiu bruscamente ao entardecer, então um dos requisitos do lugar era simplesmente ser quente. Me sentei em uma poltrona ao lado de uma lareira de um restaurante estilo "casa de vó" chamado Kau Kaleshen e somente saí para ir dormir, já tarde. Nesse tempo abri um mapa da Argentina e percebi que o Ushuaya ficava a 877 km de onde eu estava, boa parte do trajeto em estrada de chão. El Calafate seria uma ótima oportunidade de partir para o Ushuaya de uma forma mais tranquila, evitando qualquer perrengue em estradas precárias como as da Tierra Del Fuego. Na manhã do dia seguinte fui a rodoviária local e me informaram que havia uma rota que passava por Rio Gallegos e Rio Grande, com duas trocas de ônibus e uma balsa que cruzaria o Estreito de Magalhães, isso me ligaria ao Ushuaya pela Tierra Del Fuego.

     Eram 2h da manhã quando caminhava pelas ruas desertas de Calafate, cabeça baixa, braços cruzados sobre a jaqueta úmida e gelada, mochila nas costas, enquanto conversava com um casal de suíços de uns vinte e poucos anos. Não conseguíamos esconder nosso desânimo pelo frio que fazia. Como estava gelada aquela noite. O ônibus partia as 3h da madrugada.

     Então cheguei ao Ushuaya. Perambulei pela cidade por um dia e comemorei o fim da jornada com cicloviajantes e mochileiros em uma noitada de muita cerveja. Mas sabe quando tu sente que ainda falta algo?

     Dezesseis de fevereiro e o sol ainda não tinha nascido. Fiz checkout no hostel e saí a pé, com todas as minhas coisas e a intenção de pedir uma carona até o Parque Nacional Tierra Del Fuego. Depois de umas conversas e uma nova olhada no mapa, entendi que o extremo sul das Américas é no final da Ruta 3, dentro do parque, a uns 13 km ao oeste. Na metade da manhã e com meio caminho feito a pé em uma estrada de chão, comecei a ficar desacreditado sobre uma possível carona. Carro nenhum passava por ali.

     Silêncio. Era quebrado apenas pelo uivo das rajadas de vento que vinham das montanhas, lá na frente. Isso também movimentava as árvores que me rodeavam e trazia gotas de chuva que golpeavam meu rosto como pequenos projéteis. Procurei abrigo embaixo de uma das árvores e aproveitei para tirar a mochila das minhas costas que a essa hora já pesava toneladas. Apoiei minhas costas no tronco da árvore, minha cabeça pendeu para trás, fechei meus olhos e ouvi um barulho de motor. Saí do abrigo para que me vissem e apostei em uma carona. Mas era apenas uma moto, amarela, um tanto barulhenta e visivelmente precisando de ajustes. Então ameacei voltar para a árvore quando percebo que a moto estava parando. Voltei correndo para a beira da estrada enquanto a chuva aumentava. O momento foi turbulento. Ele falou algo que não entendi. Levantou a viseira, mostrando apenas seus olhos e perguntou em voz alta, em português - Sabe onde é o camping? - Falei que não sabia, mas que havia visto uma entrada na curva anterior, poderia ser lá. Ele agradeceu, baixou a viseira e eu voltei correndo para baixo da árvore. Cinco minutos depois ele retorna, buzina uma vez e acena agradecendo com um gesto com polegar da mão direita. Olho para a placa da moto e percebo que era de Feira de Santana, na Bahia. Caramba! Então descolo uma carona até a entrada do parque com um casal argentino e logo na sequência outro casal hippie de europeus me leva até a Bahía Ensenada Zaratiegui.

     Essa pequena enseada de pedras as margens do Canal de Beagle abriga o último correio postal das Américas. Foi lá que recebi duas folhas de caderno do Sr. Carlos de Lorenzo, carteiro anarquista que cuida da pequena oficina postal e que tive uma longa conversa. Usei elas para escrever cartas para casa, que escrevi sentado abaixo de uma pedra em um colchão de folhas secas. Nas minhas costas, acima da pedra, subindo a colina ao oeste da enseada, iniciava uma trilha pelas margens do Canal de Beagle que me ocuparia pelas próximas seis horas.

     Sol estava se pondo atrás de uma montanha em forma de vulcão, quando cheguei no ponto mais ao sul das Américas. Procurei um lugar plano para montar minha barraca no gramado as margens do rio. Uma pequena raposa patagônica, popularmente chamada de Zorro, circulava tranquilamente. Entrei na floresta e voltei com uma braçada de lenha seca para a noite. A direita da minha barraca, cem metros acima, havia outra barraca e logo quando percebo ela ouço uma moto passando logo acima. Vejo que vão diretamente para a barraca que havia acabado de avistar. Eram dois caras que falavam alto e gargalhavam, em português. Brasileiros. Esbocei um sorriso de satisfação. Enquanto montava minha fogueira identifico ao lado daquela barraca a moto amarela que havia pedido informação para mim na manhã daquele dia.

     Cai a noite rapidamente e logo após montar minha barraca e a fogueira, vou conhecer eles. Eram três que viajavam separadamente, cada um a sua maneira e que haviam se encontrado por um acaso naquele lugar, naquele mesmo dia. Eu seria o quarto. William Costa, professor carioca que se desprendeu de um grupo de motociclistas na Patagonia e resolveu descer sozinho até ali. Antonio Guerra Jr, fotógrafo paulista que vinha de uma temporada no Hawaii e que estava procurando uma tranquilidade temporária que São Paulo não oferecia. E o Seu Zé...

     Seu Zé era o senhor da moto amarela. Ele tinha 73 anos e um sonho. Por uma boa parte de sua vida ele desejou ir ao Ushuaya. Falavam que lá era o final do continente e ele sempre tentava imaginar como seria aquele lugar. Um dia Seu Zé percebeu que para realizar um sonho só era necessário dar o primeiro passo e assim ele fez. Pegou um pouco de comida, juntou algumas roupas, acomodou tudo em caixas de papelão presas a lateral da moto e partiu. Como ele chegaria ao final? Não importava. Ele sabia que o universo trataria disso e assim aconteceu. Assim acontece. Sua moto foi pegando forma e tudo que ele precisava foi surgindo em seu caminho, naturalmente, conforme ele necessitava. As barreiras impostas vêm de nós. Tudo está ao nosso favor.

     Durante aquela noite fizemos uma bela fogueira e compartilhamos histórias quilométricas de cada um de nós. Minha cabeça dava voltas com tudo que havia acontecido até ali. Seu Zé foi o primeiro a entrar em sua barraca para ir dormir. Vi aquele senhor se levantando e uma chave virou em minha cabeça, como se todos os devaneios e questões pendentes na vida tivessem encontrando sua resposta. Cheguei a uma conclusão - Podemos qualquer coisa!